quarta-feira, 26 de abril de 2017

CORA CORALINA - (1889-1985)



         O cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

Eu Voltarei

“Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho,

servidor do próximo, honesto e simples, de pensamentos limpos.

Seremos padeiros e teremos padarias.

Muitos filhos à nossa volta.

Cada nascer de um filho será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.

A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,

a árvore de Ruth, a árvore de Roseta.

Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.

Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas, teremos uma

 Fazenda  e um Horto Florestal.

Plantaremos o mogno, o jacarandá, o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.

Plantarei árvores para as gerações futuras.

Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.

Terão moinhos e serrarias e panificadoras.

Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens e mulheres, ligados profundamente

ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.

E eu morrerei tranquilamente dentro de um campo de trigo ou milharal, ouvindo ao longe

o cântico alegre dos ceifeiros.

Eu voltarei…

A pedra do meu túmulo será enfeitada de

espigas de trigo e cereais quebrados

minha oferta póstuma às formigas que

têm suas casinhas subterra

e aos pássaros cantores  que têm seus

ninhos nas altas e floridas frondes.

Eu voltarei…”

Cora Coralina
“Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nasceu em Goiás em 20 de agosto de 1889 e faleceu em 10 de abril de 1985.  
 Contista e poetisa adotou o pseudônimo de Cora Coralina, era filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão.
Começou a escrever aos 14 anos, publicando-os posteriormente nos jornais da cidade de Goiânia (1907), e nos jornais de outras cidades, como a "Folha do Sul" da cidade goiana de Bela Vista e na revista A Informação Goiana do Rio de Janeiro (15 de julho de 1917).
Cursou somente uma as primeiras quatro séries, com a Mestra Silvina (Mestre-Escola Silvina Ermelinda Xavier de Brito (1835 - 1920) sua vida literária data de 1907, através do semanário 1906. No jornal Tribuna Espírita - Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1905.
 Cora Coralina frequentou as tertúlias do "Clube Literário Goiano", situado em um dos salões do sobrado de dona Virgínia da Luz Vieira. Que lhe inspira o poema evocativo "Velho Sobrado". Quando começa então a redigir para o jornal literário "A Rosa" (1907). Publicou, em 1910, o conto Tragédia na Roça.
Em 1924, mudou-se para São Paulo. Ao chegar à capital, teve de permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à  Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade.
Cora Coralina recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFG (1983). E, logo depois, no mesmo ano, foi eleita intelectual do ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores. Vindo a falecer  dois nos mais tarde.
Em 31 de janeiro de 1999, a sua principal obra, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, foi aclamada através de um seleto júri organizado pelo jornal O Popular, de Goiânia, uma das 20 obras mais importantes do século XX.  Enfim, Cora torna-se autora canônica.”
“Quando teve seu primeiro livro publicado pela renomada Editora José Olympio, Cora Coralina remeteu alguns exemplares para diversos escritores, entre eles Carlos Drummond de Andrade, com quem trocaria, durante anos, correspondências. Foi por intermédio do poeta que a poesia de Cora Coralina ganhou projeção nacional; Aninha deixou de ser apenas uma doceira do interior do Brasil e tornou-se uma importante voz literária.” Wikipédia –pesquisa


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