quarta-feira, 26 de abril de 2017

CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)


Não te fies do tempo nem da eternidade

Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo…
– Cecília Meireles, no livro “Retrato natural”. 1949.

De Longe Te Hei-de Amar

De longe te hei-de amar
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.

Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?

E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.
   
Cecília Meireles, in 'Canções'
Biografia extraída da Enciclopédia Itaú CULTURAL
“Cecília Benevides de Carvalho Meirelles (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1901 - idem 1964). Poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e dramaturga. Perdera três irmãos antes de nascer e logo em seguida seu pai, três meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes de ela completar 3 anos.
É criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores, Portugal. Conclui o curso primário em 1910, na Escola Estácio de Sá, quando recebe das mãos do poeta Olavo Bilac (1865-1918), então inspetor escolar do Distrito Federal, medalha de ouro por ter concluído o curso com "distinção e louvor". Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, o magistério torna-se uma de suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964. 
Em 1922, casa-se com o artista plástico português Correia Dias (1893-1935), com quem tem três filhas.
 De 1930 a 1933, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação, e, em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro. Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971), Afrânio Peixoto (1876-1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, marco da renovação educacional do país. Em 1935, seu marido se suicida. Cinco anos depois, Cecília casa-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo. Aposenta-se como diretora de escola em 1951, mas se mantém como produtora e redatora de programas culturais da Rádio MEC, que são reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de 1976. Embora tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros, em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras - ABL, encontra seu estilo definitivo. Mesmo considerada uma poeta filiada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Entre outros temas, sua obra aborda a solidão, a brevidade da vida e a religiosidade.
Comentário Crítico
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como  Vaga Música e Mar Absoluto.”

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário