Não te fies do tempo nem da eternidade
Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo…
– Cecília Meireles, no livro “Retrato natural”. 1949.
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo…
– Cecília Meireles, no livro “Retrato natural”. 1949.
De Longe Te Hei-de Amar
De
longe te hei-de amar
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.
Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.
Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?
E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.
Cecília Meireles, in 'Canções'
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.
Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.
Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?
E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.
Cecília Meireles, in 'Canções'
Biografia
extraída da Enciclopédia Itaú CULTURAL
“Cecília Benevides de Carvalho Meirelles (Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 1901 - idem 1964). Poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e
dramaturga. Perdera três irmãos antes de nascer e logo em seguida seu pai, três
meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes de ela completar 3 anos.
É criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores,
Portugal. Conclui o curso primário em 1910, na Escola Estácio de Sá, quando
recebe das mãos do poeta Olavo Bilac
(1865-1918), então inspetor escolar do Distrito Federal, medalha de
ouro por ter concluído o curso com "distinção e louvor".
Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em
1917, o magistério torna-se uma de suas paixões, levando-a a escrever para o
público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924,
ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964.
Em 1922, casa-se com o
artista plástico português Correia Dias
(1893-1935), com quem tem três filhas.
De 1930 a 1933, mantém no
Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que
resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação, e, em
1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro.
Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio
Teixeira (1900-1971), Afrânio
Peixoto (1876-1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova, marco da renovação educacional do país. Em 1935, seu marido
se suicida. Cinco anos depois, Cecília casa-se com o professor e engenheiro
agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo. Aposenta-se como diretora de escola
em 1951, mas se mantém como produtora e redatora de programas culturais da
Rádio MEC, que são reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de
1976. Embora tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros,
em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da
Academia Brasileira de Letras - ABL, encontra seu estilo definitivo. Mesmo
considerada uma poeta filiada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais
ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Entre outros temas, sua
obra aborda a solidão, a brevidade da vida e a religiosidade.
Comentário Crítico
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.”
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.”
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