GEOMETRIA
DOS VENTOS
Eis que temos aqui a Poesia, a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição
humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao
mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao
mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.
Raquel de Queiroz
TELHA DE VIDRO
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Rachel de
Queiroz
Texto extraído da
Wikipédia - Enciclopédia
"Rachel de
Queiroz Nasceu em Fortaleza – Ceará em 1910 foi uma tradutora, romancista,
escritora, jornalista, cronista prolífica e importante
dramaturga brasileira.
Autora de destaque na ficção social nordestina.
Foi a primeira mulher a
ingressar na Academia Brasileira de
Letras. Em 1993, foi a primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões
Ingressou na Academia Cearense de
Letras no dia 15 de agosto de 1994, na ocasião do centenário da
instituição.
Rachel era filha de Daniel de Queiroz Lima
e Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo
lado materno da família de José de Alencar.
Em 1915, após uma grande seca muda-se com seus
pais para o Rio de Janeiro
e logo depois para Belém do Pará. Retornou para Fortaleza dois anos depois.
Em 1925 concluiu o curso normal no Colégio da
Imaculada Conceição. Estreou na imprensa no jornal ´´O Ceará´´, escrevendo crônicas e poemas de caráter modernista sob o pseudônimo de Rita de Queluz.
No mesmo ano lançou em forma de folhetim o
primeiro romance, História de um Nome.
Aos dezenove anos, ficou
nacionalmente conhecida ao publicar O Quinze (1927), romance que mostra a luta do povo nordestino
contra a seca e a miséria.
Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de
seus personagens, destaca‐se no
desenvolvimento do romance nordestino.
Começa a se interessar em
política social em 1928-1929 ao ingressar no que restava do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, formando
o primeiro núcleo do Partido Comunista
Brasileiro. Em 1934 filia-se ao sindicato dos professores de ensino
livre, controlado naquele tempo pelos trotskistas.
Viaja para o norte em 1934,
lá permanecendo até 1939. Já escritora consagrada, muda-se para o Rio de
Janeiro. No mesmo ano foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As
Três Marias. Escreveu ainda João Miguel (1932), Caminhos de
Pedras (1937) e O Galo de Ouro (1950
Foi presa em 1937, em
Fortaleza, acusada de ser comunista. Exemplares de seus romances foram
queimados.
Homenageada em selo postal da Sérvia, em 2011.
Lançou Dôra, Doralina em 1975, e depois Memorial
de Maria Moura (1992), saga de uma cangaceira nordestina adaptada para a televisão em 1994 pela Rede Globo. Exibida entre maio e junho de 1994
no Brasil, foi apresentada em Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana,
Uruguai e Venezuela, sendo lançada em DVD em 2004.
Publicou um volume de memórias em 1998. Transforma a sua "Fazenda Não Me Deixes",
propriedade localizada em Quixadá, estado
do Ceará, em reserva particular do patrimônio natural.
Morreu em 4 de novembro
de 2003, vítima de problemas cardíacos, no seu
apartamento no Rio de Janeiro, dias antes de completar 93 anos. Durante trinta
anos escreveu crônicas para a revista semanal O Cruzeiro e
com o fim desta para o jornal O Estado de S. Paulo.
Academia Brasileira de Letras
Concorreu contra o jurista Pontes de Miranda para a vaga de Cândido Mota Filho
da cadeira 5 da Academia Brasileira de
Letras. Venceu o pleito ocorrido em 4 de agosto de 1977 por 23
votos, contra 15 dados ao opositor e um em branco. Foi empossada em 4 de
novembro de 1977. Recebida por Adonias Filho, foi a quinta ocupante da cadeira
5, que tem como patrono Bernardo Guimarães."